segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Betty Blue

Um dos melhores filmes dos anos 80. Uma das melhores trilhas também. Confira.
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terça-feira, 14 de outubro de 2008

Te quero te quero
querendo quero bem
quero te quero
querendo quero bem.
Chiclete chiclete, mastigo dor e dor
clete chiclete,
mastigo dor e dor.

Te choro te choro,chuvinha chuviscou.
Choro te choro,chuvinha chuviscou.
Chamego chamego, me deixa me deixou.
Mego chamego,me deixa me deixou.

A dor a dor, a dor a dor
A dor a dor, a dor a dor
A dor a dor, a dor a dor

Mas eu te espero
porque o grito dos teus olhos é mais
longo que o braço da floresta e aparece atrás
dos montes, dos ventos e dos edifícios
e o brilho do teu riso é mais quente que o sol do meio-dia
e mais e mais e...

Mas eu te espero na porta das manhãs
porque o grito dos teus olhos
é mais e mais e mais
e depois que você partiu
o mel da vida apodreceu na minha boca
apodreceu na minha boca.

(Dor e Dor - Tom Zé)

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sábado, 2 de agosto de 2008


"Pois a desconsideração ou o esquecimento do nariz na história da filosofia merecem um estudo por si sós! Seria inútil procurar reflexões, mesmo que modestas, ou análises dignas desse nome concernentes aos cheiros, aos perfumes, aos aromas nas obras de filosofia dedicadas ao julgamento do paladar, à estética, à análise dos sentimentos, emoções ou percepções artísticas. Tudo para o olho! E uma complacência igualmente para com a orelha, pois esses dois órgãos colocam o mundo à distância, ao contrário do paladar, do tato e do olfato, que supõem a carne e o corpo em sua totalidade.

A imagem e o som dispõem de um status intelectual negado aos sabores, odores e percepções táteis: a boca, o nariz e a pele, não apenas a polpa dos dedos, já tão restritiva, supõem as mucosas e as secreções. Mas, sobretudo, esses três sentidos atestam a animalidade que subsiste no homem: tocar, fungar, farejar, mastigar, engolir, deglutir são operações que invocam a digestão e a defecação, a submissão às necessidades naturais. O nariz é o órgão dos animais que caçam, matam e comem."


ONFRAY, Michel. "Aristipo e 'a volúpia que instiga'". In.: Contra-história da filosofia. 1: as sabedorias antigas. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 108.



"O vovô Vicenzo era tão divertido quanto o vovô Javier, mas em outro estilo. Uma vez me contou como se salvou de um naufrágio famoso. Perguntei se ele tinha se safado porque sabia nadar. 'Não, mas que idéia. Sempre tive mais afinidade com as aves do que com os peixes. Mas a verdade é que também não sei voar.' Sua gargalhada florentina ressoava no pátio como um carrilhão. 'E então como foi que você se salvou?' 'Muito simples: perdi o barco em Gênova. Cheguei ao porto meia hora depois daquela partida asquerosamente pontual. Tentei arranjar uma lancha para me levar até o navio (ainda estava à vista). Por sorte fracassei no propósito. Quando soube, dez dias depois, que o buque afundara em pleno oceano, não me veio uma idéia menos egoísta do que festejar com um garrafão de Chianti. Já sei que está errado, que eu devia ter pensado nos outros; hoje não faria isso de novo, mas naquela época eu era muito jovem e ainda não aprendera a ser hipócrita.' E aqui outra gargalhada."


BENEDETTI, Mario. A borra do café. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 19-20.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O segredo musical mais bem guardado de Tânger


Que me lembre, nunca disse o nome da cidade onde moro a uma certa amiga fisicamente distante. Numa certa conversa, disse que morava em Tânger. Ela riu. E entendeu.
Pois bem: estive, na noite de hoje, em uma casa noturna de Tânger, em companhia de um grande amigo, parceiro de subversões leves. Estávamos lá principalmente pra ver e ouvir a Blazz. Disse a ele: "cara, muito obrigado por me avisar que eles iam tocar. Uma das poucas coisas que me fazem largar o que estiver fazendo e sair de casa é uma apresentação destes caras". Verdade. A primeira vez que assisti os seis (na época, se não me engano, cinco) tocarem foi no estacionamento de um supermercado. Aconteceu totalmente por acaso. Estava trabalhando numa feira do livro (das tantas que proliferam nesta terra) e, no final do expediente, fui vê-los. Tocavam clássicos do jazz contemporâneo, standarts, digamos: Thelonius, Hancock, Coltrane, Ellington, Brubeck, etc., e tocavam tão bem e com tanto entusiasmo que me emocionei. Fiquei até o fim, juntamente com outros dois sujeitos que faziam as vezes de público.
A Blazz é uma banda de jazz. A única, que eu saiba, realmente relevante e em atividade em Tânger. À primeira vista, parecem um grupo de funcionários públicos que saíram da repartição e se reuniram pra tomar um chope e conversar. Aí, sobem no palco, assumem os instrumentos e tocam. Simples assim. Não há apelo visual, pose, discurso bonito no microfone. Sobem no palco e tocam jazz com vontade. O baixo e a bateria parecem ser o pólo mais "animadinho". Volta e meia aceleram o andamento e improvisam. O sax, a flauta e o teclado, ao mesmo tempo em que puxam o pessoal da cozinha de volta aos temas principais, também se soltam e improvisam às vezes sóbria, ás vezes desenfreadamente.
Não sei, mas parece-me que a Blazz continua tocando toda quarta no mesmo lugar onde os vi pela última vez. O lugar se chama "Insano" e fica em frente ao Zaffari da Lima e Silva.
E mais não digo.

domingo, 4 de maio de 2008

Por um palheiro cada vez maior

"tenho imaginação fértil e gosto de agradar" diz a Leandra Leal no disco do 3 na Massa (que é bem legal, recomendo).
Eu também.
A dor e a delícia das frases ambíguas. A dor está na leitura simplesmente lasciva. A delícia, na aplicação mais geral, extensiva.
Durante um bom tempo busquei essa agulha, que deveria ser única, num palheiro enorme. E encontrei,várias. E todas únicas, no seu momento.
Não há um só amor, foi o que aprendi.
Aquele de que falam tanto, o verdadeiro, o insubstituível, é lenda. Tive esse amor várias vezes. O último volta e meia ainda me dói.
Tudo tem seu tempo e leva o tempo que leva. Não adianta tentar apressar a passagem do amor, estando ele acabado, em frangalhos ou em plena vigência.
Não adianta.
Verdade, o mais recente amor eterno deixou imagens, sons, gostos, cheiros que, a cada vez que são acionados, me deixam com o estômago suspenso (as borboletas na barriga, depois do fim do amor, ou melhor, do fim daquilo que o estrutura concretamente, continuam suspensas, mas congeladas, paradas, empurrando pra cima o diafragma), mas vêm abrandando seu efeito. Graças, principalmente, à decisão que tomei de não procurar mais uma agulha, mas ver o valor da palha que antes me apavorava quando parecia bloquear o alcance a uma agulha inexistente.
Sejamos claros: toda palha pode ser agulha. A eternidade, a perenidade do amor é instável. Pode durar algumas horas, alguns anos, meia dúzia de dias. E isso é fascinante.
Todas as mulheres que amei foram o amor único e eterno. Deixaram sua marca, às vezes sutil, às vezes a ferro, e agradeço-as muito, muito mesmo, por isso.
Todas que amarei também serão esse amor único e eterno.
Por que o amor é uma construção ampla, arejada e cheia de espaços onde se pode encaixar a novidade e o trivial da existência.
Quanto ao sexo, parece-me que o essencial é isso mesmo: imaginação fértil e vontade de agradar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre Padres Voadores




A história do padre Adelir de Carli, que resolveu sair de Paranaguá pendurado em mil balões de gás é, certamente, uma das mais excêntricas das tantas que a mídia brasileira divulga diariamente (em três postagens, já é a segunda em que eu falo de mídia, imprensa, etc. O que está acontecendo comigo? Não assino jornal nem vejo muita tevê!). Ainda que, ao que tudo indica, o padre Adelir tenha ido longe demais (literalmente) ao tentar realizar suas fantasias de infância, ele conseguiu, de maneira absolutamente original, entrar para uma minúscula linhagem clerical brasileira. Junto a ele, há pelo menos um outro grande padre voador, Bartolomeu de Gusmão. Na primeira metade do século XVIII, o inventivo jesuíta criou um curioso mecanismo para alcançar o céu sem a mediação de qualquer indulgência. A passarola (imagem acima), como foi batizado o "instrumento de andar pelo ar" projetado por Gusmão era um misto de barco e balão que chegou mesmo a voar, por pouco tempo e sem atingir grande altitude. Foi o bastante, porém, para o padre Bartolomeu entrasse para a história com a alcunha de "Padre Voador" e inspirasse o personagem Bartolomeu Lourenço, de Memorial do Convento, romance do discutível José Saramago.


Enfim, Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, foi um dos empresários brasileiros com mais horas de vôo acumuladas em sua época.



E daí?


Sei lá, hoje estou meio randômico.

domingo, 27 de abril de 2008


Guerra de fronteira

As fronteiras ideológicas da Guerra Fria atravessavam países e continentes, separando o “mundo livre” do outro e dos simpatizantes do outro. A não ser que visitasse um país comunista ou freqüentasse algum “aparelho”, você nunca as cruzava. Sequer as via. Independentemente das suas simpatias ou eventuais rebeldias, vivia dentro de um perímetro comum bem definido. Com o fim da Guerra Fria, as fronteiras ideológicas desapareceram e nos vimos dentro de outra macrogeografia, a das fronteiras econômicas. Estas são visíveis demais. Separam bairros, dividem ruas, são fluidas e ondulantes – e no Brasil você as cruza todos os dias. Mais de uma vez por dia você passa por floridas, suíças, bangladeshes, algumas bolívias... E em cada sinal de trânsito que pára, está na Somália.
É impossível proteger estas fronteiras como se protegiam as outras. A grande questão do novo século é como defender seu perímetro pessoal da miséria impaciente e predadora à sua volta. Os americanos não podem ajudar desta vez, a fronteira maluca ziguezagueia dentro dos Estados Unidos também. No Brasil da criminalidade crescente e da bandidagem organizada, as fronteiras econômicas são, cada vez mais, barricadas e terras de ninguém. No fim é uma guerra de contenção, de proteção de perímetros. E os excessos cometidos são defendidos com a velha frase, que foi o adágio definidor do século 20 e ganha força no século 21: os fins justificam as barbaridades. As chacinas de lado a lado, o poder de pequenos tiranos com ou sem uniforme de aterrorizarem o cotidiano de todo o mundo, tudo é permitido porque é uma luta de barreira, onde se repelem ou se forçam tomadas de território, como em qualquer fronteira deflagrada. Cara a cara, nação contra nação.
Há um sentimento generalizado, mesmo que não seja dito, que a maior parte da população do mundo é lixo. Excrescência irrecuperável, condenada a jamais ser outra coisa. Esta não é certamente uma constatação nova e nem qualquer utopista ultrapassado chegou a pensar que o contrário era completamente viável. A novidade é que hoje se admite pensar o mundo a partir dela. Já se pode dormir com ela. A ordem econômica mundial está baseada na inevitabilidade de a maior parte do planeta ser habitada por lixo irreciclável. Ser “politicamente correto” hoje é dizer o que ninguém mais realmente pensa – sobre raças, sobre os pobres, sobre a consciência e compaixão - para não parecer insensível, mas com o entendimento tácito de que só se está preservando uma convenção que a retórica dos bons sentimentos finalmente substituiu totalmente os bons sentimentos. É a intuição destes novos tempos sem remorso que move o entusiasmo crescente do público com a truculência policial na nossa guerra do dia-a-dia. Nem tem sentido discutir se as vítimas mereceram ou não Não existe lixo inocente ou culpado. O que está no lixo é lixo. Demasia. Excesso. Excrescência.


Luis Fernando Veríssimo

(Zero Hora, 29/11/2007)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Enfim, tudo é relevante...

... menos a cobertura do caso Isabella. No momento em que escrevo, faz mais de uma semana que a imprensa divulga incessantemente qualquer coisa referente ao caso da menina que caiu, foi empurrada, atirada ou coisa assim do alto de um edifício em São Paulo. O fato em si é terrível, claro. Tenho um filho de cinco anos e um pavor enorme me atravessa o corpo inteiro ao imaginar algo semelhante acontecendo com ele. A relevância do episódio é indiscutível. O que não pode ser levado tão em conta é o mórbido carnaval que as redes de televisão têm feito em torno. Primeiro: logo não haverá mais o que extrair do caso. Tudo que se podia explorar já foi explorado. Até a opinião do poodle da vizinha dos pais da tia da madrasta da menina já foi ouvida. Enquanto a(s) culpa(s) não for(em) provada(s) há praticamente nada a ainda ser dito. Em outras palavras, pode-se contar as horas, os minutos, para que qualquer outro crime, escândalo ou festividade nacional ocupe o lugar do caso no interesse das emissoras e do público. Segundo: desconfio que não se pode confiar em nada que seja veiculado na imprensa brasileira. Se o menos lido dos jornais está comprometido com alguma instância de poder (econômico, principalmente) quem dirá a emissora que bate recordes de audiência. Este comprometimento torna a imparcialidade jornalística uma piada. De forma que a imprensa brasileira, para mim, é irrelevante quando se apresenta como veículo de qualquer tipo de verdade. E sendo assim, o caso Isabella, este que foi construído, montado hora a hora diante dos olhos ávidos do país inteiro é absolutamente desimportante. Quem duvida, por favor, pergunte daqui a dois meses o nome da avó materna de Isabella para aquele colega de trabalho que acompanhou todos os detalhes do caso pela tv. Se ele ainda souber, favor desconsiderar-me.