segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Algo diferente sob o sol (quando há)... de Porto Alegre


Tapeçaria da Memória

Oficina de Produção de Textos Autobiográficos
Orientação e Organização – Fabio Bortolazzo Pinto



As Confissões(398 a.C.) de Santo Agostinho são consideradas 'o primeiro texto autobiográfico do ocidente'. Nesta obra, o célebre religioso argelino já coloca aquelas que continuam sendo as questões mais importantes para o estabelecimento de uma reflexão existencial cronologicamente estruturada. 'O que é o tempo?' e 'Qual a natureza da memória?' são algumas das perguntas que norteiam não apenas a rememoração de Agostinho mas a de todos aqueles que produziram e pensaram sobre o ato autobiográfico (resumidamente: a atitude de lembrar e registrar os acontecimentos da própria vida). São também questões como essas que serão abordadas na Oficina de Produção de Textos Autobiográficos intitulada 'Tapeçaria da Memória'.
A idéia, partindo de tais questões, é estimular a reflexão acerca da história de vida, produzindo a partir de lembranças e referências tanto objetivas quanto subjetivas textos que tornem mais palpável(eis) a(s) razão(ões) da existência.
Partindo da análise de objetos significativos e símbolos internalizados pelos indivíduos participantes, a oficina visa a organização cronológica dos fatos mais importantes de cada uma das vidas apresentadas e analisadas durante o processo e a construção de textos que equacionem tanto as experiências mais íntimas quanto aquelas que dizem respeito ao papel, seja como agente ou testemunha, do processo histórico. Pretende-se trabalhar, pois, efetivamente, na elaboração e/ou reformulação de textos memorialísticos (autobiografia, diário, etc) que descerrem para o próprio autor e seus potenciais leitores a evidência de que cada história de vida tem um significado importante não somente para aquele que a experiencia mas como parte de uma história maior, que diz respeito a todos. O processo de rememoração e registro das experiências vivenciadas passa essencialmente pela construção de um ‘acervo de lembranças significativas’.
Sendo assim, no primeiro momento da Oficina a ideia é, através do relato oral, da coleta de imagens, objetos e todo e qualquer indício material ou simplesmente sinestésico da passagem do tempo, juntar as peças, ‘enrolar o novelo de linhas dispersas’ que será desenrolado organizadamente para compor a tessitura da ‘história de vida’ de cada participante. Nos primeiros encontros, portanto, o trabalho será o de desinibir os participantes (não confundir com terapia de grupo) e estimular o relato oral acerca dos fatos que lhes parecerem relevantes de sua própria existência. Na dinâmica destes relatos já deve surgir a interação e, consequentemente, a identificação e o debate acerca das visões de mundo apresentadas. No segundo momento da oficina será priorizada a análise dos objetos que, de alguma forma, materializam a existência de cada participante. Estes elementos devem funcionar como a base, a superfície em que serão dispostos os ‘fios’ da memória mais subjetiva. Descrever e justificar a importância destes objetos será o primeiro contato dos participantes com a escrita propriamente dita. Entre aquilo que elaboraram e o que vai sendo registrado, uma série de questões estruturais/formais devem surgir. É o momento em que tais questões serão abordadas e discutidas pelo grupo. Na terceira parte, por assim dizer, da Oficina, o foco será a ampliação do horizonte da memória, quer dizer, a inserção do íntimo, do ‘privado’ no contexto maior do convívio social e do consumo de informações: através de crônicas, notícias de jornal, registros históricos e literários (imediatamente associáveis ao período vivido pelos participantes) será feita a apreciação oral e escrita destes registros. O quarto momento será o de juntar, tecendo enfim num registro memorialístico amplo e significativo para cada um dos participantes, no formato que pareça mais adequado, um único texto, a ser lido, debatido e avaliado por todos. O quinto e último passo será aquele em que se buscará definir, se for o caso, a maneira como estes textos serão veiculados, expostos a um público maior, concluindo, assim, o processo de reflexão, construção e registro do trabalho desenvolvido na Oficina.


Tapeçaria da Memória – Oficina de Produção de Textos Autobiográficos

Quartas (18:00 as 20:00) ou quintas (16:00 as 18:00), de 18/19 de novembro a 21/22 de abril (intervalo de férias durante o mês de fevereiro)

Investimento mensal: R$ 180,00 (4 encontros por mês)

Local: Palavraria - Livraria-Café
Rua Vasco da Gama, 165 - Bom Fim
90420-111 - Porto Alegre
Telefone 051 32684260
palavraria@palavraria.com.br
www.palavraria.com.br

Fabio Bortolazzo Pinto é Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela UFRGS; autor da dissertação intitulada A ficção não é o que parece: autobiografia, cinematographia e escrita diarística em três romances de Carlos Sussekind http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/8576 Professor de Literatura do Ensino Médio no Colégio Província de São Pedro e nos Cursos Pré-Vestibular Meta e Matéria Prima (Caxias do Sul); Responsável pelo Prefácio, Posfácio e Notas de A Correspondência de Fradique Mendes de Eça de Queirós (L&PM), A Carteira de Meu Tio e O Moço Loiro de Joaquim Manuel de Macedo (L&PM). Também mantém (i)rregularmente atualizado um blog: http://tudorelevante.blogspot.com/

sábado, 24 de outubro de 2009

Fazer o que se gosta

Sou professor há três anos (segundo alguns amigos que praticam o ofício há bem mais tempo, só com seis, sete anos de docência é que se aprende realmente como dar uma boa aula) e confesso que a atividade já não me traz tanta satisfação. O primeiro ano foi terrível: insegurança, didática nenhuma, preparação de aulas a partir do zero, noites em claro, constrangimento e pouco domínio de palco (sim, uma das coisas mais certas a respeito de 'ser professor' é a de que se está num palco, atuando diante de um público na maioria das vezes pouco interessado - é preciso ter impostação vocal, total noção do espaço cênico, saber usar o corpo, etc). O segundo ano foi maravilhoso. Perdi toda e qualquer vergonha de ocupar a posição, desenvolvi um 'estilo' ou algo parecido de dar aula (que consiste basicamente em associar todo e qualquer conhecimento àquele que é a base da 'disciplina' que me cabe, Literatura, e em uma exploração do estranhamento que, imagino, minha figura, minha voz e meus trejeitos causam na audiência). Enfim, o segundo ano como professor foi de descoberta e prazer. O terceiro, este que se encaminha pro final, além de várias decepções fora da sala de aula, trouxe-me uma vontade de tentar outras coisas, outro tipo de abordagem. O post seguinte talvez esclareça o que estou dizendo.