Tenho a estranha sensação de que fiquei devendo a mim mesmo durante este ano. Deixei-me estar, realizando o que podia e o que me convinha. Trabalhei com convicção, gosto e vontade. Amei intensamente, para o bem e para o mal, fazendo justiça ao que senti e assumindo o papel às vezes patético, ridículo ou dramático que desempenhei em minhas entregas afetivas. Cuidei, na medida do possível, pra não cair no abismo da tristeza e da melancolia totais.
Algo, porém, não estava lá.
Não está.
Acho que fiz tudo certo, mas não olhei para além dos limites. Não excedi nenhuma barreira que me impus.
Me obedeci demais: talvez seja isso.
Ocorre-me agora que solidão em que me encontro pode ser fruto de um excesso de coerência. E que a palavra que sempre pensei que melhor me definia, inadequação, de repente se uniu a uma sensação que não a exclui: a de que existir, no espaço vazio, infinito e limitado a que confinei minha existência, tem, gradativamente, tornado-se a única e, portanto, a mais adequada maneira de viver.
Encaremos, sem muito respeito ou seriedade, o natal e o ano novo que vêm por aí.
Me encontro(em) em 2011.