terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Dois mil e onze foi um ano bom.




A coragem de arriscar talvez tenha sido a grande aquisição de 2011. De todos os balanços anuais que faço neste blogue, este certamente é o mais satisfeito. Comecei uma trajetória (que acaba de ser coroada com uma renovação de contrato) profissional que teve bem menos descaminhos que as anteriores. Aprendi com a experiência e, melhor, coloquei o aprendizado em prática. Finquei pé - suavemente - na manutenção de certas crenças ligadas à instância pedagógica e obtive bons resultados (fruto da diplomacia, da coerência e da convicção).
No campo da vida criativa - talvez a mais importante de todas, e a mais incerta sem dúvida - saltei, sem rede de segurança, em uma atividade que me proporcionou outra concepção de performance no mundo: o teatro. Não que ele já não estivesse presente, mas, formalizado, trouxe um acréscimo de consciência das coisas que me cercam (semelhantes incluídos) que não esquecerei nem perderei mais. Trouxe-me também alguém que foi, é e será importante, espero, por muito, muito tempo ainda (uma mulher, uma pessoa, um horizonte).
Por fim, acho que além da coragem, de extinta a auto-comiseração, também aprendi lições de ética importantíssimas. Como me disse há pouco Fernando Savater em um livro despretensioso e precioso chamado Ética para o meu filho, ética significa, antes de tudo, a arte de "viver bem".
Vivi bem durante este 2011 que chega ao fim. Parece-me que basta para querer ir em frente. Venha 2012: depois de tanto tempo, seja bem vindo, ano novo.

Meu carinho incondicional a todos os amigos, inimigos, conhecidos e simpatizantes.
Que sejamos felizes, por mais que às vezes nos custe.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Convergência/Epifania



Não é preciso significado ou explicação.
Há momentos, bem poucos, em que o olhar converge e a leitura do mundo é bem mais que decifrá-lo.
Sentado numa poltrona, na escuridão da sala de cinema iluminada por uma cena de beleza trágica, vibra o celular no bolso.
Era meu irmão eletivo, Mario Neto.
Não pude atender mas registrei mentalmente a importância da chamada.
Eram 17:10. A cena, o choque do planeta azul (que outra cor poderia ter?) Melancholia com a Terra.
Saio do cinema e sinto o telefone vibrar de novo.
Na mensagem, Mario escreve: "15 para as 10 da noite. Estou em Paris atravessando a Pont Neuf. Nunca viria até aqui sem ver a ponte que sempre me faz lembrar de meu melhor amigo! Saudades meu irmão!"
É provável que jamais tenha recebido mensagem tão bonita, por sua singeleza e significado.
O encontro de Melancholia com a Terra, a lembrança de um amigo em um momento único.
E foi então que, entre a fantasia do fim e a grandeza incondicional da amizade, por um instante estive em todos os lugares do mundo.
E me senti em casa.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

O melhor sexo.


no melhor sexo a gente fica nu de dentro pra fora de fora pra dentro e assim sucessivamente.


sábado, 4 de junho de 2011


Sugiro a visita a um excelente blog: http://www.lettersofnote.com que reúne bilhetes e recados de diversos escritores, intelectuais e personalidades marcantes do universo das artes, da cultura e da literatura. Destaque para os registros pessoais e públicos de admiradores deste objeto imprescindível, o livro, e do privilegiado espaço da biblioteca - templo democrático que acolhe crentes, céticos, curiosos e especialistas.
Enjoy!

A célebre foto acima, de autoria desconhecida, é da Biblioteca da Holland House, em Londres, bombardeada em setembro de 1940.

"A biblioteca é o templo do saber, e este tem libertado mais pessoas que todas as guerras da história.” (Carl Rowan)


terça-feira, 10 de maio de 2011

Estilitas


Não sou cristão.
Tampouco acredito no deus dos cristãos.
Mas admiro os santos. Menos pela santidade que pela atitude, pela vida que decidiram levar os que pretendiam ou não virar santos.
Parece-me que entre mortos em grelhas e comedores de gafanhotos e mel, os Estilitas são os de postura mais esdrúxula e, para mim, mais pia.
Resolveram tomar distância dos homens, em direção ao céu.
Seria essa a origem da estilizada torre de marfim dos poetas mais pedantes?

Uma grande - talvez a única - cinebiografia do mais famoso dos Estilitas, São Simeão, é 'Simão do Deserto', média metragem de Buñuel, tão peculiar quanto seu protagonista.
Abaixo, uma das visitas do diabo (Silvia Pinal) a Simão (Claudio Brook).




Os santos às vezes descem dos altares.
Não vem a nosso encontro,
acostumados que estão a ser encontrados.
Querem sujar os pés na terra,
pois não são Deus
e agradecem.
Também não são o crucificado
cuja lembrança os magoa.
São santos, intermediam
e isso lhes basta.
Pois um dia foram homens, foram mulheres:
conhecem a riqueza da precária condição.


segunda-feira, 9 de maio de 2011


Leve é uma vida que não leva a nada.

Vamos, senhores,
é perto
E é tão pouco o tempo que temos
E é opaco o espaço medido
Entre um passo e outro passo que damos.

Ainda assim, senhores,
Vamos.
Que ficar descompassa o que somos
E ilude a vontade, queremos
Muito mais do que já precisamos.

Se pararmos, senhores, agora,
Acreditem: não levantaremos
E ocupando o espaço restrito
Empacaremos o tempo no medo.

Que temendo o correr das mulheres,
Das ideias que não desposamos,
E dos homens que assim não seremos
Só de longe veremos as cores
Dos abismos que nos esperavam
Tempestades para as quais nascemos.