terça-feira, 10 de maio de 2011

Estilitas


Não sou cristão.
Tampouco acredito no deus dos cristãos.
Mas admiro os santos. Menos pela santidade que pela atitude, pela vida que decidiram levar os que pretendiam ou não virar santos.
Parece-me que entre mortos em grelhas e comedores de gafanhotos e mel, os Estilitas são os de postura mais esdrúxula e, para mim, mais pia.
Resolveram tomar distância dos homens, em direção ao céu.
Seria essa a origem da estilizada torre de marfim dos poetas mais pedantes?

Uma grande - talvez a única - cinebiografia do mais famoso dos Estilitas, São Simeão, é 'Simão do Deserto', média metragem de Buñuel, tão peculiar quanto seu protagonista.
Abaixo, uma das visitas do diabo (Silvia Pinal) a Simão (Claudio Brook).




Os santos às vezes descem dos altares.
Não vem a nosso encontro,
acostumados que estão a ser encontrados.
Querem sujar os pés na terra,
pois não são Deus
e agradecem.
Também não são o crucificado
cuja lembrança os magoa.
São santos, intermediam
e isso lhes basta.
Pois um dia foram homens, foram mulheres:
conhecem a riqueza da precária condição.


segunda-feira, 9 de maio de 2011


Leve é uma vida que não leva a nada.

Vamos, senhores,
é perto
E é tão pouco o tempo que temos
E é opaco o espaço medido
Entre um passo e outro passo que damos.

Ainda assim, senhores,
Vamos.
Que ficar descompassa o que somos
E ilude a vontade, queremos
Muito mais do que já precisamos.

Se pararmos, senhores, agora,
Acreditem: não levantaremos
E ocupando o espaço restrito
Empacaremos o tempo no medo.

Que temendo o correr das mulheres,
Das ideias que não desposamos,
E dos homens que assim não seremos
Só de longe veremos as cores
Dos abismos que nos esperavam
Tempestades para as quais nascemos.