quarta-feira, 26 de junho de 2013

Enquanto isso, sinto-me cada vez mais desobrigado dos compromissos civis e engajado na implosão das feias cavernas aqui de dentro. É tanta autocrítica e rasteira que me dou! Chega. Sento-me com esta caneca de café com cachaça ao lado e tamborilo o teclado. Dane-se o que vou achar do que escrever. Importa o que você acha. Não se trata de generosidade, mas de interlocução. Converso tanto comigo que não tenho mais assunto. Quero as palavras alheias invadindo meu texto frouxo. Pra isso, escuta, ouvidos e nenhum olho interno a reparar em mim. Quero escrever aberto, agora, e talvez consiga. Afasto o talvez. Pra não estar de todo, melhor o ruído. Gente entra e sai do cofre chamado cafeteria, onde não floresce mais que o segredo voluntário de espiar a mesa ao lado. Espie-me, moça. Sentada, lendo, levanta as lentes da página e me percebe escrevendo. Não pode ser um lugar qualquer, claro. É preciso um lugar em que não se estranhe o notebook. Ainda assim, chama a atenção o movimento dos dedos. Alguém escreve! Como atiça a curiosidade do cara de touca e barba comprida. Vontade de virar a tela em sua direção e mostrar que é transparente a página que escrevo. Seria estranho, ou pior: me constrangeria. Como disse, quero distância do sentir, neste exato momento. O som da água correndo pela torneira da pia em que se lavam xícaras. A ansiedade no ar que alivia logo que entra mais gente e os funcionários, resignados, desistem de fechar o caixa. Salvo o fluxo. Se fechar o computador, não volto a escrever. Conheço meu tipo. O café fica realmente dentro de um cofre. Antes de centro cultural (um bom lugar, ainda assim) isto era um banco. Um banco enorme. No agora espaço de exposições, os vitrais no teto altíssimo ainda exibem palavras-chave do ideário positivista. Bem vindo ao Rio Grande do Sul. Há também um cinema, igualmente dentro de um cofre. Uterino esse negócio de cofre: acolhedor, quentinho, fechado. Mas com prazo curto de gestação. Um amigo manda mensagem. Vem encontrar-me. E agora? Agora é o fim. Gestado com carinho, com cuidados de mãe desnaturada, nasce um texto com cara de mundo.


Adiós!



Um comentário:

MANOELA disse...

Deu vontade de procurar um café e dar asas à imaginação...