segunda-feira, 12 de agosto de 2019



O crime. 
Sim, aquilo de que nunca tínhamos tomado parte e que era do cotidiano dos não-brancos, não-ricos, não-cristãos e não-criados-em- condomínio-apartamento-ou-casa-com-pátio-e-garagem.
Era a fronteira que não ousáramos atravessar, apesar de toda nossa coragem movida a raiva e desconforto. 
O crime era nossa antítese, o ato inaugural, que nos igualava, que nos aproximava demasiadamente deles
Por que uma coisa era vociferar contra a sociedade, ou o que conhecíamos dela, fumar maconha, usar roupas sujas e ficar dois dias sem voltar pra casa, outra, muito diferente, era dar conta de nossas próprias necessidades sem pedir que ninguém nos ajudasse, e, mesmo pedindo, não sermos atendidos. 
Uma coisa era chocar a família unida na noite de natal, negando a taça pra brindar e o peru pra comer. 
Uma coisa era épater les bourgeois, outra era chocar a nós mesmos. Queríamos mesmo pisar naquele outro mundo, viver um momento de precariedade absoluta? 
Eis a pergunta que vale um milhão de inconsequências.

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